"O design sustentável não trabalha apenas a forma, trabalha principalmente questões culturais e de comportamento" (Fábio Souza)
Fábio Souza é idealizador e diretor executivo do instituto de design para desenvolvimento sustentável (idds).
O que é design sustentável?
Design sustentável, é um conjunto de ferramentas, conceitos e estratégias que vão gerar benefícios ou melhorias nos âmbitos dos 3 pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. No entanto, quando a gente fala de design sustentável, a gente pensa em um âmbito muito mais macro. Ou seja, não pensa apenas em desenvolver um produto de menor impacto ambiental trabalhando apenas os processos de fabricação, os materiais, procurando utilizar materiais reciclados ou provenientes de fonte renovável. Isto é, não trabalha apenas a forma, trabalha principalmente questões culturais e de comportamento para saber como otimizar o beneficio daquele produto. Trata-se de mudar a questão cultural e de uso daquele produto ou serviço.
No mundo de hoje, em que a população ultrapassa 6 bilhões de pessoas, como a conciliar melhorias sociais, o que necessariamente vai levar ao consumo de mais recursos naturais, com preservação ambiental?
Uma das coisas que a gente fala muito em Design Sustentável, é que ele tende a inverter a polaridade do impacto. Então algo que tem hoje um impacto muito negativo pode efetivamente causar a mesma proporção do impacto, mas para positivo. No caso da super população, podemos pensar o seguinte: quando você come, o que você está fazendo? A comida é um combustível para você usar como energia, que é necessária para você chegar ate aqui. Então todo ser humano é uma mini usina de energia para ele mesmo. A gente pode falar assim: “já que eu tenho uma super população, vou usar cada um como uma usina de energia”. É possível fazer isso e isso está ocorrendo em algumas universidades. Existem alguns projetos conceituais como uma calçada em que as pessoas vão andando e vão gerando energia. Aquele tênis de criança em que quando ela pisa acende a luzinha vem desse conceito. Todos os produtos que hoje são à base de energia elétrica ou de outras fontes podem ser feitos com energia dinâmica. Outro exemplo de uso de energia humana é aquele relógio em que você vai andando, vai balançando, e vai gerando a própria energia. Dentro desse conceito existem já academias, danceterias. É um negócio super legal. Toda vez que o design sustentável olha para uma atividade ou um problema, ele tende a pegar esse problema e inverter a polaridade. Por mais que o impacto inicial seja massivo negativamente, o design sustentável tem a capacidade de inverter a polaridade disso e causar um impacto massivo positivamente.
De que modo o mundo virtual da internet pode contribuir no sentido da criação de um planeta mais sustentável?
Sabemos que a desmaterialização é uma das estratégias mais eficazes de design sustentável para um planeta mais sustentável. O resultado disso, é que haverá uma mudança comportamental nos consumidores. Usuários não vão se apegar tanto ao material/produto, mas sim ao benefício do mesmo, o que chamo de “conceito de benefício” ou o início da “espiritualização do design”. Outras conseqüências são a menor quantidade de extração de matéria–prima para produção e conseqüentemente menos descarte de resíduos. Empresas poderão aplicar uma série de estratégias para tornar seu cliente mais fiel a marca e principalmente não haverá mais desperdícios ao longo do ciclo de vida dos produtos, já que serão utilizados apenas no momento necessário, podendo ser compartilhados, ranqueados e debatidos em tempo real por usuários de países diferentes. Sendo compartilhados e utilizados apenas nos momentos necessários, até mesmo os melhores produtos (que teoricamente seriam mais caros) poderão ser mais acessíveis. Essa é a verdadeira democratização do design. Haverá também uma busca pela melhor qualidade dos produtos oferecidos, pois o poder de escolha e veto estará mais nas mãos dos consumidores. Essas possibilidades certamente fazem por si só, a virtualização/digitalização, uma das importantes ferramentas de um futuro menos ambientalmente impactante, com novas possibilidades mercadológicas e de inovação, e de uma sociedade mais interativa, coletiva, cooperativa e democrática, tão importantes para uma ambiente mais sustentável.
Srta. Scarpin
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